Foto: Guilherme Paranaiba/Ascom Sisema
Exuberância da Mata do Limoeiro, vista da torre de observação na sede do parque
“Olha aquela mata, verde, linda e contagiante. Vale linda verde mata, de cachoeiras e floras raras. Mata do Limoeiro, deixa a beleza aqui falar por si”. Os versos da música Mata do Limoeiro, escritos pelo compositor Pablo Basilio, exprimem bem o que a área verde protegida de mais de 2 mil hectares representa para a comunidade de Ipoema, distrito do município de Itabira, na Região Central de Minas Gerais, e também para todo seu entorno.
Dez anos depois da publicação do decreto que instituiu oficialmente a criação do Parque Estadual Mata do Limoeiro, a unidade de conservação gerenciada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) contabiliza avanços para a proteção do meio ambiente, com envolvimento maciço da população em projetos que fortalecem a conservação da UC. Enquanto completa uma década de existência, a unidade que já é uma referência em educação ambiental faz planos para se tornar um polo estadual no tema, com investimentos previstos ainda para o ano de 2021.
Criado em 22 de março de 2011, o parque preserva fragmentos dos biomas mata atlântica e cerrado, o que garante uma grande diversidade biológica. A unidade ocupa a área da antiga Fazenda do Limoeiro, que hoje não existe mais, e, entre outros motivos, foi implantada para frear especulações surgidas ainda no final da década de 1980 e início da década de 1990 sobre uma possível exploração de carvão vegetal na área. Outra razão foi a necessidade da composição de um mosaico de unidades de conservação na região, contribuindo com a preservação da biodiversidade, em conjunto com unidades federais e municipais.
Atualmente, o parque conta com importantes atrativos turísticos, como cachoeiras, trilhas e mirantes (leia mais abaixo), que influenciam diretamente no turismo de Ipoema e positivamente na qualidade de vida da população local e também do entorno, incluindo a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Afinal, a unidade está a apenas 90 quilômetros da capital mineira. O diretor-geral do IEF, Antônio Malard, destaca a importância do parque para a conservação da cadeia que compõe a Serra do Espinhaço e para o fomento da educação ambiental em Minas Gerais.
“O Parque Mata do Limoeiro é uma unidade de conservação que tem a sua importância acentuada por contribuir diretamente na conservação da biodiversidade da porção mineira da Serra do Espinhaço. Além disso, o Parque tem um programa de educação ambiental que se destaca a nível nacional, apostando fortemente em projetos de impacto junto às crianças, universitários, pesquisadores profissionais, professores e comunidades. Os resultados desses 10 primeiros anos são excelentes e temos certeza de que essa unidade continuará promovendo a conservação ambiental por muitos anos mais”, diz Malard.
Foto: Guilherme Paranaiba/Ascom Sisema
Ribeirão chama atenção pela beleza dentro do Parque do Limoeiro
EDUCAÇÃO AMBIENTAL RECONHECIDA A NÍVEL NACIONAL
O trabalho de educação ambiental mencionado pelo diretor-geral do IEF é, na verdade, a consolidação de uma série de projetos desenvolvidos pela equipe do parque, coordenada pelo gerente Alex Amaral. Ele ocupa o cargo desde 2013 e está à frente das iniciativas que fazem parte do Limoeiro em Ação, conjunto de ações para conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação do meio ambiente e para fortalecer o vínculo da unidade com a comunidade. O conjunto dessas ações foi agraciado em 2016 como a melhor iniciativa em educação ambiental pelo Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade e Amor à Natureza, o que confirma o protagonismo no assunto. Antes disso, o parque já havia sido um dos indicados para a categoria de mobilização social na mesma premiação.
“A comunidade local se envolveu demais com os trabalhos que foram propostos. Hoje, 10 anos depois da criação da unidade, vejo que o maior ganho é esse envolvimento local nos projetos. Eles permitem participação e os moradores se sentem parte do que acontece dentro do parque”, diz o gerente. Quando menciona os projetos, o gerente está falando sobre ações como o já tradicional Ecofolia, que teve sua primeira edição no ano de 2014, com o objetivo de monitorar os atrativos naturais mais visitados da UC e a realização de pesquisa do perfil do turista que frequenta a região durante o carnaval.
Esse é um projeto que aconteceu em todos os anos desde 2014, mas que em 2021 precisou ser interrompido por conta da pandemia. A cada ano um tema diferente foi escolhido, sendo que as duas primeiras edições tiveram como foco os visitantes, que foram submetidos a pesquisas de conhecimento do público e também atividades como blitzes ecológicas. Nos anos seguintes, o projeto passou por mudanças e começou a focar nas comunidades do entorno, com atividades de educação ambiental nas próprias comunidades e também dentro do parque.
Foto: Lucas Fonseca/IEF
Ecofolia é uma das ações mais reconhecidas de educação ambiental do Parque do Limoeiro
Além disso, o programa Limoeiro em Ação também conta com outras vertentes, como o contato com escolas e faculdades por meio de concursos de desenho, redação, formação de agentes verdes e visitas das instituições ao parque. Em parceria com essas instituições, é realizado também o programa Limoeiro Mais Verde, com mutirões de plantio de mudas, e o projeto Postal Limoeiro, que possibilita que alunos das escolas troquem cartas temáticas sobre meio ambiente com parceiros da UC.
Outra linha de atuação da educação ambiental são as visitas guiadas, onde, além de conhecer os atrativos naturais, estudantes podem visitar as salas temáticas que trazem exposições para refletir sobre o consumismo, caça e pesca predatórias e uma sala de exposição de arte com objetos recicláveis. Destaque ainda para o Limoeiro Noturno, que consiste em caminhadas noturnas pelas trilhas. A experiência permite a reflexão sobre o quanto o ambiente está vivo, é dinâmico, mutável e harmônico.
As ações que buscam conscientizar as pessoas sobre a importância de se preservar os recursos naturais passam ainda por seminários de educação e gestão ambiental, fomento à difusão do conhecimento com intercâmbios com outras unidades de conservação, projeto de ações para prevenção e combate a incêndios florestais (Fogo Zero), e também o Recicla Mais. Essa é uma iniciativa que trabalha a reciclagem e reutilização de diversos objetos que possam ser reaproveitados na unidade de conservação, como cadeiras, mesas, madeiras de cancelas e cercas. Diversas placas, pontes e móveis foram construídos, desde 2014, por meio do projeto, promovendo economia de recursos públicos e a sustentabilidade.
“As diretrizes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação são pouco efetivas sem educação ambiental. Para proteger o patrimônio natural, o principal investimento de uma unidade de conservação é a conscientização”, diz o diretor de Unidades de Conservação do IEF, Cláudio Castro.
Foto: Alex Amaral/IEF
Plantio de mudas é atividade recorrente dentre as iniciativas de educação ambiental
UM PARQUE FORTALECIDO POR SUAS COMUNIDADES
Os trabalhos desenvolvidos de educação ambiental só apresentam o resultado esperado de proteção e preservação se tiverem as comunidades do entorno como parceiras, de acordo com o gerente Alex Amaral. No entorno do Limoeiro, diversos vilarejos foram convidados a participar dos projetos e ações desenvolvidos no parque e abraçaram as ideias. As comunidades participam de diversas formas. Elas estão representadas no Conselho Consultivo, visitam o parque, se voluntariam em projetos e ações, organizam reuniões e palestras para que a equipe da unidade possa esclarecer dúvidas, apoiam diretamente o projeto Fogo Zero na época mais crítica da seca, e também apoiam o mapeamento de crianças para uma atividade que é bastante consolidada no Limoeiro, o Natal em Comunidades.
Essa é uma iniciativa que recebe diversas atrações na época do Natal, como pula-pula, corte de cabelo, bate-papo sobre a importância do parque, lanches, guloseimas e ainda multa cultura. A programação costuma prever apresentação teatral, coral, palhaços e fantasias. Com o apoio dos parceiros, o parque faz uma grande campanha para arrecadar presentes para centenas de crianças cadastradas, com o apoio de agentes comunitários de saúde. O trabalho conta com a parceria de diversas entidades que multiplicam a campanha de arrecadação e, no final, garantem que as crianças recebam seus presentes, que são entregues pelo Papai Noel.
O empresário Luiz Carlos Figueiredo, que é dono de uma pousada em Ipoema e vive no local, a 4 Km do parque, é um dos apoiadores do projeto e participa ativamente das atividades desenvolvidas pela unidade. “O parque é um atrativo de Ipoema que oferece as melhores experiências para quem vem nos visitar. O trabalho desenvolvido é muito importante. Meus filhos foram agraciados com a campanha do Natal e sempre que possível a gente arrecada doações para essa atividade. Além de tudo ainda tem a questão da preservação, que significa oxigênio no futuro”, diz ele.
Foto: IEF/Divulgação
Natal em Comunidades surgiu em 2013 no Limoeiro e é uma das atividades de maior presença das comunidades locais. Na imagem, edição de 2016
A bióloga Cibele Andrade de Alvarenga é uma das pessoas que participa do Conselho Consultivo do parque, representando uma cadeira da Fundação Comunitária do Ensino Superior de Itabira (Funcesi). Ela destaca que a criação do parque foi importantíssima para a cidade de Itabira, porque não havia uma área verde daquele porte que as pessoas pudessem visitar. Além disso, o distrito de Ipoema foi bastante beneficiado nos últimos 10 anos.
“Além de preservar os recursos naturais o parque uniu a comunidade, porque são vários vilarejos próximos e as pessoas não tinham contato umas com as outras. A unidade fez a conexão dessas populações e se tornou um centro de referência”, diz ela. Ainda segundo a conselheira do Limoeiro, o trabalho desenvolvido no âmbito do Conselho Consultivo também permite que a unidade consiga desenvolver várias parcerias, já que muitos setores são representados dentro do conselho.
Foto: IEF/Divulgação
Aniversário de três anos do Limoeiro, realizado em 2014, com ampla participação comunitária
PREVISÃO DE AMPLIAR A REFERÊNCIA
Se hoje a realidade já coloca o Limoeiro como modelo em relação ao tema educação ambiental, a intenção da equipe do parque é consolidar ainda mais a referência no assunto em futuro próximo. Projetos de reforma da sede estão sendo executados neste momento com recursos de compensação minerária. A ideia é que as obras, em fase de projeto, sejam iniciadas ainda em 2021. Estão previstas algumas adaptações no imóvel da sede do parque, bem como a instalação de um restaurante, centro de visitantes e a criação de espaços adequados para as ações de educação ambiental.
A estrutura ainda prevê um auditório para 120 pessoas, o que pode fortalecer bastante o turismo em Ipoema, tanto na parte ecológica quanto de negócios. “Queremos que o parque se torne uma referência nacional em conscientização, proteção e educação ambiental”, pontua Alex Amaral.
Foto: Yara Queiroz/Divulgação
Sede do parque vai passar por adaptações para receber melhorias
TRABALHOS NA PANDEMIA
A pandemia de Covid-19 manteve o parque fechado por sete meses no ano passado, situação que se repete atualmente com a inclusão de todo o Estado de Minas Gerais na onda roxa do Plano Minas Consciente, que permite o funcionamento apenas de atividades essenciais. Apesar desses fechamentos, a equipe composta por 11 servidores não parou de trabalhar em nenhum momento.
Funcionários aproveitaram para criar novos equipamentos de entretenimento para os visitantes tirarem fotos e também avançaram em tarefas como o reconhecimento de um novo mirante. A ideia é que a escolha do nome seja definida por meio de votação popular. E as atividades de monitoramento e manutenção continuaram da mesma maneira, enquanto a presença do público esteve proibida.
Foto: Alex Amaral/IEF
Durante a pandemia, funcionários do parque criaram estruturas para os visitantes tirarem fotos, como a fachada desta casa colorida
ATRATIVOS IMPERDÍVEIS
O grande diferencial do Parque Estadual Mata do Limoeiro é seu conjunto de atrativos ecológicos, que oferece lazer e aventura em diferentes formatos para os visitantes. A combinação de cachoeiras, trilhas e mirantes é perfeita para quem não abre mão do contato direto com a natureza. Entre as cachoeiras, destaque para a Cachoeira do Derrubado, que conta com uma queda d’água imponente, com altura de mais de 40 metros, e um grande poço, propício para banho em épocas secas. Na parte baixa, é possível cruzar o Córrego do Macuco em direção à comunidade do Cedro. A cachoeira está situada a 4,5 km de distância da sede do parque, o que significa cerca de uma hora de caminhada.
Foto: Guilherme Paranaiba/Ascom Sisema
Cachoeira do Derrubado é um dos principais atrativos do Limoeiro
Já a Cachoeira do Paredão é formada por três corredeiras e poços propícios para banho, principalmente em períodos secos, uma vez que em períodos de chuva o local fica perigoso por causa do aumento do volume de água. Está situada a 3,3 km de distância da sede do parque e cerca de 45 minutos de caminhada. A Cascata do Limoeiro é formada por pequenas quedas d’água e poços propícios para banho, que os moradores costumam caracterizar como o coração da Mata do Limoeiro. Ela está situada a 3,5 km de distância da sede do parque (50 minutos de caminhada). Todos esses atrativos são conectados por um circuito de oito quilômetros, que circunda o parque e pode ser percorrido de bicicleta com pequenos obstáculos naturais.
Foto: Roneijober Andrade/Divulgação
Outra opção para banho no parque é a Cascata do Limoeiro
O parque ainda conta com outros atrativos, como a Gruta do Limoeiro, que serve de abrigo para mamíferos de porte elevado e é local de habitação para morcegos. No local, é comum ver registros de pegadas de animais que utilizam o espaço. A visitação só é permitida com autorização da gerência da unidade e com acompanhamento de guia. Está situada a 4,8 km de distância da sede do parque.
Outro atrativo muito interessante do Limoeiro é Trilha dos Sentidos, que desperta as sensações e sensibiliza sobre a importância dos sentidos, do equilíbrio e de um contato mais intimista com o meio ambiente. Ela é conduzida pela equipe de funcionários do parque com o visitante com os olhos vendados e seguindo uma corda por um percurso de 220 metros. A trilha proporciona momentos de muitas sensações e emoções que leva o visitante a pensar seus hábitos e valores, dando ênfase às suas responsabilidades através de uma reflexão coletiva e individual. Para conferir mais detalhes sobre a unidade, clique aqui e acesse a página oficial do Parque Estadual Mata do Limoeiro.
Foto: IEF/Divulgação
Trilha dos Sentidos é uma iniciativa sensorial da equipe do parque que já foi espalhada para outras unidades de conservação
COMEMORAÇÃO VIRTUAL
Em acordo com o momento mais crítico de pandemia da Covid-19, a celebração pelos 10 anos do Parque do Limoeiro se dará forma virtual, com o lançamento do livro “Olhares sobre o Parque Estadual Mata do Limoeiro”. A publicação traz 46 imagens da unidade de conservação, que são resultado de diferentes olhares de 13 fotógrafos sobre a área protegida. O livro foi desenvolvido com recursos de um Termo de Ajustamento de Conduta celebrado com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). O evento será realizado nesta quarta-feira, 24 de março, às 19h.
Guilherme Paranaiba
Ascom/Sisema