O monitoramento da fauna é realizado pela organização não governamental Instituto Biotrópicos em parceria com a Rede de Pesquisas para o Uso Sustentável e Conservação do Cerrado (ComCerrado) e com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), que administra a Reserva. Além de Veredas do Acari, outras três unidades de conservação estaduais participam do projeto: as Áreas de Proteção Ambiental (APA) Pandeiros e Cochá e Gibão e do rio Pandeiros e o Refúgio de Vida Silvestre do Pandeiros.
Evandro Rodney
O gerente da Reserva, Cícero de Sá Barros, é um dos incentivadores do projeto de inclusão dos guarda-parques na observação dos espécimes. “Como o Biotrópicos já havia iniciado a implantação das máquinas, identificamos aqueles funcionários que tinham interesse, os treinamos e logo os outros começaram a participar”, explica. A atividade usou sete câmeras, sendo seis analógicas e uma digital.
Os próprios guardas-parques indicaram e instalaram as máquinas nos locais mais adequados para a captura de imagens necessárias para produzir a primeira lista oficial de fauna da unidade de conservação. “O Instituto Biotrópicos trabalha há anos no norte de Minas, estudando principalmente mamíferos e anfíbios e unimos esforços para capacitar os guardas-parques das unidades de conservação e elaborar as listas de espécies”, explica Barros. “
Das quatro unidades de conservação monitoradas, a Reserva Veredas do Acari foi a que mais gerou imagens. Foram produzidos 35 filmes em sete meses de trabalho, que registraram 159 fotos de mamíferos de médio e grande porte. Dentre eles, estão 41 registros de onça-parda (suçuarana) e 33 registros de lobo-guará. A lista preliminar da unidade tem 12 espécies catalogadas. (ver tabela).
Espécies
O trabalho no norte do Estado para identificar a fauna local já registrou duas raridades: a presença do lobo Guará de cor preta, variação da espécie nova para a ciência, e o cachorro-vinagre, espécie criticamente ameaçada de extinção no Estado.
Não existem registros oficiais da presença do lobo-guará preto no mundo, como o do espécime fotografado na Reserva Veredas do Acari. A imagem, feita à noite, mesmo não estando nítida, permitiu aos pesquisadores notarem que a morfologia é a mesma de outros lobos-guarás: perna longa e orelha grande. A partir de agora, os pesquisadores pretendem continuar os estudos, para compreender os hábitos do animal.
Já o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é um animal pouco conhecido e raro, apesar de ser encontrado em quase todo o território brasileiro, da Mata Atlântica até a Amazônia. Um vídeo gravado no Parque Estadual Veredas do Peruaçu mostra um indivíduo foi comemorado pelos pesquisadores que estudam a espécie e a fauna no Norte de Minas. A espécie é classificada como vulnerável no país e está criticamente ameaçada em Minas Gerais.
O cachorro-vinagre é um canídeo de corpo alongado e pernas curtas e lembra uma lontra, chegando a pesar 5 quilos e medir 70 centímetros de comprimento e 30 de altura. Ele é um bicho social, vive em bandos permanentes de até 10 animais, o que permite caçar presas com o mesmo tamanho que ele, como tatus e patos são seus principais alvos.
Parcerias
As duas descobertas foram possíveis graças a parcerias entre o IEF e organizações públicas e privadas. No caso do Lobo Guará preto, o registro foi feito por uma das câmeras instaladas pelo Instituto Biotrópicos que já tornou possível a descoberta desse e de outras 10 espécies de mamíferos. Já o registro cachorro-vinagre, é uma parceria entre a organização não governamental WWF-Brasil e com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
O norte de Minas Gerais concentra 70% da cobertura florestal e 80% dos grandes mamíferos do estado. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari está localizada nos municípios de Chapada Gaúcha e Urucuia e possui uma área de cerca de 60 mil hectares.
Já o Parque Estadual Veredas do Peruaçu está localizado em Januária e possui 30.702 hectares. A área abriga um complexo de veredas e lagoas, formando um ambiente de textura argilosa. Destaque para a vereda do Peruaçu, que dá origem ao (significa 'gruta grande'), com seus 37 quilômetros de comprimento decorados por palmeiras e buritis de até 20 metros de altura. A vegetação do Parque é a Caatinga, o Cerrado e as florestas, geralmente matas ciliares responsáveis pela conservação do curso das águas do Rio Peruaçu.
12 espécies registradas na RDS
Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)
Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous)
Raposa-do-campo (Pseudalopex vetulus)
Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)
Gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus)
Jaguatirica (Leopardus pardalis)
Jaritataca (Conepatus semistriatus)
Suçuarana (Puma concolor)
Anta (Tapirus terrestris)
Caititu (Pecari tajacu)
Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira)
Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus)
Emerson Gomes
Ascom Sisema